Pelo menos três pessoas identificaram o rosto do responsável pela morte de Wilton Tapajós Macêdo, 54 anos. As testemunhas foram entrevistadas por investigadores por quatro horas, na noite da última quarta-feira, e ajudaram os papiloscopistas do Instituto de Identificação (II) da Polícia Civil do DF a elaborar o retrato falado do homem responsável por atirar duas vezes na cabeça do agente da Polícia Federal. A execução ocorreu na tarde da última terça-feira, no Cemitério Campo da Esperança.
Segundo o relato das testemunhas, o homem responsável por tirar a vida de Tapajós é moreno claro, de rosto fino e tem o cabelo quase raspado. Ele usava óculos escuros na hora em que puxou o gatilho, mas um pouco antes de cometer o crime foi visto sem o acessório. Por esse motivo, o II confeccionou três imagens diferentes do autor do assassinato: com e sem os óculos e uma terceira na qual simula um provável disfarce.
Ainda na noite de quarta-feira, a direção da Polícia Civil as encaminhou à delegada Mabel de Faria, chefe da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) e responsável pelas investigações. Cópias também foram entregues para policiais federais que participam da apuração da morte do colega. As corporações, no entanto, não divulgaram os retratos falados para a imprensa. Tornar públicas as características dos suspeitos pode fazer com que eles se reconheçam nas imagens e fujam, dificultando a captura.
Mistério
As polícias Civil e Federal estão no encalço de dois suspeitos. As testemunhas, porém, não conseguiram descrever detalhes do comparsa do assassino, pois ele teria permanecido dentro de um Fiesta prata, veículo visto por jardineiros em atitude suspeita. Um dos que auxiliaram a polícia a reproduzir o rosto do assassino de Tapajós trabalha no Campo da Esperança. Como adiantou o Correio na edição de ontem, por medo de represálias, ele optou por não contar o que viu, mas a revelação feita a amigos vazou e chegou ao conhecimento dos investigadores, que o intimaram a depor.
Até agora, pelo menos 20 pessoas foram ouvidas na 1ª DP. A delegada Mabel destacou que, apesar da complexidade do crime, os trabalhos estão bem encaminhados. "Em parceria com a PF, estamos conseguindo avançar bem nas investigações. Não descartamos nenhuma tese. Pode ter ocorrido vingança ou até mesmo latrocínio (roubo com morte)", informou.
A morte do policial ainda é cercada de mistérios. O fato de apenas o Gol branco placa JIN-2896/DF da vítima ter sido levado reforça a tese de crime encomendando ou de vingança. O veículo não havia sido localizado até o fechamento desta edição. Os bandidos deixaram para trás a pistola Glock 9 milímetros, de uso restrito e de alto valor no mercado clandestino, além dos R$ 135 que o agente federal carregava no bolso.
O agente também acumulava dívidas. Há cerca de 20 dias, ele fez um empréstimo consignado no valor de R$ 30 mil, segundo um dos filhos. Uma das suspeitas é de que o dinheiro tenha sido usado para pagar cobradores. Tapajós tinha três execuções na Fazenda Pública do Distrito Federal. É possível até que as dívidas tenham motivado uma perseguição contra ele no fim do ano passado. Ele registrou ocorrência sobre o caso na 3ª DP (Cruzeiro).
Pensão
Um dia após o enterro de Wilton Tapajós, funcionários do Cemitério Campo da Esperança demonstraram estar assustados com a repercussão do assassinato. Ao contrário dos dias anteriores, jardineiros preferiram não comentar o assunto. A reportagem passou mais de uma hora no local, mas com a aproximação do carro do jornal, a maioria dos jardineiros caminhava apressadamente para não falar sobre o assunto. Na Polícia Federal, os colegas de trabalho também preferiram o sigilo e evitaram falar até mesmo sobre as qualidades de Tapajós. A explicação para o silêncio era para "não atrapalhar as investigações".
Na manhã de ontem, dois filhos e Marian, viúva de Tapajós, estiveram no Sindicato dos Policiais Federais (Sindipol) para discutir questões administrativas relacionadas ao custeio do enterro e da pensão. "É um momento muito difícil para a família e todos continuam muito abalados. Estamos sendo solidários e vamos disponibilizar ajuda psicológica, caso eles necessitem", disse o presidente da entidade sindical, Jones Borges Leal. Os familiares, ainda muito abalados com a perda de Tapajós, não quiseram dar entrevistas.
Carro suspeito
Um pouco antes de o policial federal Wilton Tapajós ser assassinado, na Quadra 606 Cemitério Campo da Esperança, jardineiros viram um Fiesta Prata rodando a área. No carro, havia dois homens, supostamente os mesmos que participaram da morte do agente. O veículo pode ter sido usado na fuga de pelo menos um dos bandidos.
Dois tiros, um deles na nuca
O policial federal Wilton Tapajós Macêdo (54 anos) foi assassinado na última terça-feira diante do túmulo dos pais, no Campo da Esperança, no fim da Asa Sul. A vítima levou dois tiros, na altura da nuca e de um dos ouvidos. Exame preliminar do Instituto de Medicina Legal (IML) revelou que o agente estava agachado e rendido, com as mãos na cabeça. O crime ocorreu por volta das 15h. Tapajós chegou ao cemitério em um Gol branco, registrado no nome do filho Renato Alves Tapajós. Levava flores ao túmulo dos familiares na Quadra 606, Sepultura 108, Setor C, como fazia com frequência — o local fica a menos de 2km da Superintendência da Polícia Federal, onde ele trabalhava. Não se sabe com precisão quantas pessoas participaram do assassinato, mas o responsável pelos disparos fatais teria aproveitado o momento de oração para disparar contra a vítima. O local é ermo, distante das capelas, mas coveiros e jardineiros que trabalhavam nas proximidades ouviram os tiros e chamaram a polícia às 15h15. Pelo menos um deles viu o crime. O bandido escapou com o carro de Tapajós.
Fonte: Correio Braziliense