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Serjão Pinheiro fala sobre intervenção no Rio, violência e situação da polícia Postado em 05/04/2018 por Sindicato dos Policiais Federais às 17:32

Em bate-papo com o jornalista Cefas Carvalho, Serjão Pinheiro, policial federal aposentado e presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (FENAPEF), fala acerca da crise no sistema de segurança pública, dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson, demonstrando insatisfação quanto à falta de integração entre as polícias e à ineficácia da intervenção no RJ, a qual julga ser um “paliativo”.

Qual é a sua análise acerca da participação da Polícia Federal na polêmica referente à munição, oriunda de munições enviadas à PF, que matou a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson?

Serjão Pinheiro: Entendo que a missão principal, hoje, das polícias envolvidas é descobrir quem matou a vereadora e o motorista. Essa é a investigação principal. Quanto aos efeitos colaterais, como a munição, são problemas desde 2006, quando essa munição foi extraviada. O que preocupa é que o ministro, “extraordinário” em segurança pública, falou que foram abertos 50 inquéritos policiais para que a investigação fosse feita e, agora, quando ele deveria estar bem assessorado sobre esse assunto, fala várias “conversas”. Podemos ver o quanto a segurança pública neste país está falida. Deve-se reinaugurá-la. O sistema de persecução penal tem à frente um inquérito policial que é um entulho burocrático e tem de acabar. Se nosso sistema tivesse investigações mais sérias, responsáveis e produtivas, o ministro teria, com certeza, as informações que queremos, pois até agora ninguém sabe o que realmente houve. Quem perdeu a munição? Onde perdeu? Foi furtada? Foi roubada? Quem foi o responsável por isso? Espero, apenas, que isso não venha a dificultar as investigações para chegarmos aos autores dos assassinatos de Marielle e Anderson.

Como avalia o envio de munições pelo correio? Sempre foi assim? É natural?

Serjão Pinheiro: isso é uma questão administrativa, de gestão. Os gestores da PF, em sua maioria, são delegados de polícia, comando do canil à direção-geral. Essas informações, basicamente, eles que têm. Enquanto sindicalista, junto à FENAPEF, busco vários tipos de informações como essa, mas não temos. Isso é um privilégio que apenas um delegado tem. A empresa de correios brasileira é, até hoje, respeitada mundialmente, tanto que há gente querendo privatizá-la. Portanto, é uma empresa séria. Caso as munições tenham sido transportadas pelos Correios, sabemos que há a possibilidade de invasão. Mas a questão não é como despareceu a munição e, sim, no tipo de investigação para chegar aos autores do crime.

O senhor teme que a PF sofra desgaste se isso não for investigado logo, já que está no centro da discussão?

Serjão Pinheiro: A PF é uma instituição respeitada nacional e internacionalmente. Tem muitos serviços prestados para a sociedade. É um fato grave, mas o problema é a forma como se deu a investigação. Nãos se pode haver 50 inquéritos policiais para chegar à conclusão do desaparecimento de algumas munições. Caso isso aconteça, há a necessidade de uma forma de investigação inteligente. Precisamos, urgentemente, de uma polícia científica. Com todo respeito às Forças Armadas, a intervenção que está havendo no Rio de Janeiro, a qual dizem ser civil, federal, é comandada por um general. Entendo que aquilo é um paliativo, um placebo. Estão tentando tratar uma infecção com um analgésico. Trata-se uma infecção com um antibiótico, que seria uma polícia preparada. Precisamos das polícias civil, militar e federal preparadas, onde, principalmente, trabalhem no combate à corrupção que há nas polícias. Temos que ter a dignidade de assumir isso. Não apenas nós, policiais e sindicalistas, mas a sociedade. Se temos que ter uma intervenção séria, é sobre isso. Temos que limpar a nossa polícia e preparar melhor os nossos policiais.

Quanto a uma reconstrução da polícia, acredita em uma unificação de todas as polícias?
Serjão Pinheiro: Tratar da segurança pública é um problema muito sério, já que há a questão da integração. O crime organizado é integrado, que está preso no Acre, por exemplo, comanda, tranquilamente, o crime no Rio Grande do Sul. Já as polícias não estão integradas. As agências de segurança só se integram em grandes eventos, como a Copa do Mundo, quando há carência de mostrar para o público de fora a mentira de que existe segurança. Não podemos mais conviver com esse tipo de mentira. O que precisamos é de integralizar as polícias. Isso deve ser feito através de leis. A polícia deve ter caráter civil. Quem comete um crime não é inimigo. Por ser apenas um criminoso, deve ser preso, investigado, denunciado, julgado e, caso seja condenado, deve pagar sua pena em uma penitenciária, preferencialmente, que tenha oportunidade de estudo e trabalho. Isso ressocializa. Não se pode ressocializar quem sequer foi socializado. Para termos uma boa segurança pública, termos de ter uma saúde adequada, um sistema educacional que funcione, um emprego e lazer. Forcas Armadas, Exército, Marinha, Aeronáutica não resolvem o problema da segurança pública. O que resolverá isso será a reinauguração do nosso sistema, que passa pela polícia, pelo Ministério Público e pela Magistratura, principalmente na parte da execução penal.

FONTE: Potiguar Notícias

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