Selfie e Nutella
João Xavier de Oliveira Filho
Agente de Polícia Federal
É frequente a exibição narcisista de policiais federais e de outras instituições quando em operações ou não. É a vaidade da Geração Nutella tentando impor à força, a máscara do ego acima da competência, além do total desrespeito às gerações anteriores que dedicaram sua vida ao combate à criminalidade, usando o talento e a coragem sem exercícios de egolatria.
O fenômeno da jovialidade tecnológica chegou aos operadores de segurança dotados de vaidade extrema. Nas redes sociais, a linguagem é de nerd, com os termos juvenis usados a cada selfie durante exercícios em academias de ginástica e até mesmo em serviço. Ou no desfile ridículo pelos shoppings da vida.
É de Allan Kardec a melhor síntese sobre o exército feito a ferro e à prepotência: O egoísmo, o orgulho, a vaidade, a ambição, a cupidez, o ódio, a inveja, o ciúme, a maledicência são para a alma ervas venenosas das quais é preciso a cada dia arrancar algumas hastes e que têm como contraveneno: a caridade e a humildade.“ É frase para ser lida, relida e para se refletir, mesmo quem guarda na massa cinzenta o nível de substâncias feitas para ficar mais bonito no sentido da beleza postiça.
Os tempos, nesse tema, mudaram regredindo. Enquanto a Geração Nutella dispara na velocidade insana do mais bonito superando o mais eficiente, há desprezo a quem construiu a credibilidade das instituições de segurança atuando com sangue, suor e coragem.
O comportamento segregador dos mais jovens é seguido de maneira integral pelas direções e chefias, sobretudo na Polícia Federal. Os chefes temporários avocam para si a eternidade de um comando em que a integração nem é palavra nem ação, deixando para trás, ignorados, os antigões que, em analogia futebolística, jogavam pelos atalhos e venciam com brio os piores criminosos.
Discriminados pelos novatos, chefias, os modernos da competência de si próprio, do talento na aparência, os precursores policiais são desprezados quando, de fato, foram os responsáveis pela construção de uma história de bravura e heroísmo.
São eles os homens de trincheira urbana, desde o velho revólver .38 canela seca até o fuzil 7,62 de agora. São eles os homens cuja ausência de vaidade, irmã do egoísmo, a fazer jus a todas as homenagens. O espelho nunca foi a luta principal desta estirpe, para quem a verdadeira vitória sempre foi combater e vencer o crime. Sem selfie nem Nutella.
SINPEF/RN