O governo começou nesta semana uma maratona de reuniões preparatórias para nova rodada de negociações com servidores federais grevistas. Nesta segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Miriam Belchior (Planejamento), Gilberto Carvalho (Secretaria da Presidência), Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral da União), para tratar do tema. Durante a tarde, a Junta Orçamentária do governo se encontrou para verificar o “espaço orçamentário” que existe para apresentar propostas e quais categorias poderiam ser agraciadas com aumentos.
A palavra de ordem no governo é delinear acordo, até o fim da semana, com as cerca de 30 categorias paralisadas nas diversas esferas do Executivo - ainda que Dilma permaneça irredutível em conceder aumento a todas as categorias em greve.
O governo sentiu a pressão do movimento especialmente na semana passada, quando aeroportos e rodovias ficaram travados e portos tiveram a circulação de mercadoria prejudicada. A presidente argumentou, em vão, que a crise financeira não permite a concessão do aumento reivindicado pelas categorias. Enfatizou, em discurso na última sexta-feira, que a prioridade do governo é o trabalhador da iniciativa privada. Atos e manifestações de grevistas em várias partes do país, no entanto, não foram desmarcados.
Uma das táticas adotadas pela Presidência para permitir mais flexibilidade nas negociações é receber as categorias separadamente. Dessa forma, isola as centrais sindicais, em rebelião contra o que as entidades chamam de "autoritarismo" do Planalto, para enfraquecer um discurso que a própria presidente não considera condizente com o contexto econômico do país. Centralizada na pasta do Planejamento, as negociações são concentradas no secretário de Relações do Trabalho, Sérgio Mendonça, que terá uma rotina de quatro a cinco reuniões por dia com representares sindicais nesta semana.
Há motivo para a correria: o prazo para apresentar propostas de reajuste termina no dia 31 de agosto, quando o governo tem de enviar a proposta orçamentária de 2013 ao Congresso. Pressionada pelo tempo, Dilma tem de encontrar estratégias para conseguir chegar a um acordo com parte dos servidores, privilegiada com aumentos acima da inflação durante os oito anos de governo Lula. Segundo cálculos do Ministério do Planejamento, para atender ao pacote de reivindicações dos servidores, o governo teria de desembolsar 92 bilhões de reais. Entre os servidores em greve - 350 000, segundo os sindicatos - estão os professores universitários, policiais e delegados federais e agências reguladoras.
Segundo informações do Ministério do Planejamento, a primeira mesa começa nesta terça-feira, às 10 horas, com representantes da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef). Será discutida a lei 12.277/10, que criou uma estrutura de remuneração especial para cinco cargos de nível superior do Executivo: engenheiro, arquiteto, economista, estatístico e geólogo. Às 14 horas, será a vez dos representantes dos servidores do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ainda com a presença da Condsef. Às 15 horas são os técnicos administrativos das universidades federais que vão negociar, junto com um representante do Ministério da Educação. No final da tarde, será a vez dos servidores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Na quarta-feira, já estão marcadas reuniões com os policiais federais e com os servidores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o ministério, ainda não há previsão de uma reunião com as centrais sindicais, que neste fim de semana divulgou nota rcriticando o "autoritarismo" da atitude do governo com o movimento.
Mesmo com as críticas, os sindicalistas não desistiram de serem recebidos por representantes do governo. Caso até quarta-feira não haja sinal de diálogo, os presidentes das centrais sindicais prometem apelar para o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Nesse dia, Carvalho participa da abertura de uma reunião com presidentes da União Geral dos Trabalhadores (UGT), da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da Força Sindical, da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e da Nova Central com Carvalho em Brasília. Na pauta está o Programa Nacional de Proteção ao Emprego.
“Mas se até lá não houver um convite para conversar com as centrais, vamos pedir ao ministro que faça a ponte com o governo”, afirmou o presidente da UGT, Ricardo Patah.
Fonte: Veja